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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Apontamentos sobre estudo do meio e trabalho de campo



No primeiro momento, foi um impacto, ouvir aquelas conchas
se partindo com nosso peso, mas,
ao mesmo tempo, surgiram muitas indagações,
com certeza mais do que quando chegamos.
Anderson Tognoli, "Descrição da viagem para Cananéia"

A epígrafe supracitada é parte de um dos cadernos de campo dos estudantes do curso de especialização Arqueologia, História e Sociedade, da Universidade Santo Amaro (UNISA), e se refere ao trabalho de campo realizado em um dos sambaquis da Ilha Comprida (Cananéia, SP), em julho de 2009. No extremo sul do litoral paulista, onde está localizada essa ilha do complexo estuarino lagunar de Cananéia-Iguape, há vários sambaquis. Tais sítios arqueológicos despertaram a atenção dos estudiosos, desde as expedições realizadas pela Comissão Geographica e Geológica do Estado de São Paulo (SP) e os trabalhos de campo de arqueólogos do Museu Nacional (RJ), no final do século XIX, até os programas de pesquisa interdisciplinares sobre a pré-história, recentemente desenvolvidos na região. Essa região também é muito apreciada por outros tipos de viajantes: a beleza das paisagens, diversidade socioambiental e a riqueza do patrimônio histórico e cultural fazem de Cananéia e das ilhas do extremo sul do litoral de São Paulo um pólo de atração para o turismo. Alguns blogs e sites pesquisados na fase de pré-produção do estudo do meio têm como público alvo educadores e estudantes... e turistas.

Para conferir a importância dos sítios arqueológicos localizados nessa região costeira, onde realizamos nosso estudo do meio, e de outros dispersos na bacia do rio Ribeira, os leitores podem consultar artigos, dissertações e teses que integram as referências do post Bibliografia sobre sambaquis, também na seção Estudo do meio deste blog.

O sambaqui visitado está situado em uma área cujos vestígios arqueológicos são analisados na literatura especializada, a partir de problemas e abordagens construídos por meio de diálogos entre vários campos do conhecimento, voltados para o estudo da pré-história: arqueologia, paleontologia, zoologia, geofísica, bioantropologia, e outros. Muitas questões levantadas pelos participantes, durante a observação do sítio e o desenvolvimento de atividades, colocavam em pauta aspectos importantes para esses diálogos interdisciplinares e poderão ser aprofundadas através de pesquisa bibliográfica e da redação de alguns artigos para o blog. As indagações que reverberavam leituras e debates realizados em diversas disciplinas do curso, e foram amplificadas pelas atividades desenvolvidas no sambaqui, problematizam a antiguidade da ocupação dos povos pré-históricos na região; complexidade social, padrões de assentamento e transformações da paisagem; redes de relações entre os sítios arqueológicos fluviais e costeiros dessa área; cotidiano, modo de vida e sociabilidade dos povos que enterravam ali seus mortos e outros grupos pré-históricos da região, bem como outros questionamentos relativos ao manejo de plantas e outros recursos naturais que integram a paisagem do sambaqui em tempos passados; usos e conservação desse sítio na atualidade; relações entre comunidades tradicionais de hoje e povos pré-históricos.

Em muitos artigos de revistas acadêmicas, sites e blogs especializados, que apresentam experiências e reflexões sobre essa prática, as expressões estudo do meio e trabalho de campo são utilizadas praticamente como sinônimos: mas, nós utilizamos a expressão estudo do meio em nosso blog para descrever um conjunto de atividades – levantamento bibliográfico e leituras, debates, pesquisa de campo para coleta e registro de dados, produções de textos e imagens, divulgação – realizadas em várias etapas, ao passo que o trabalho de campo abrange as atividades realizadas em sítios arqueológicos, pesquisas em reservas técnicas de museus e outras instituições. Parafraseando o título de um artigo da geógrafa N. Pontuskha na coletânea O ensino de geografia no século XXI (Papirus), o conceito de estudo do meio transforma-se... em tempos diferentes, em instituições diferentes, com grupos diferentes, assim como as representações e práticas sobre o trabalho de campo modificam-se conforme os contextos e sujeitos envolvidos na pesquisa.

Além de consultar a bibliografia indicada nesta seção, siga os links interessantes para ampliar sua pesquisa bibliográfica (http://estudodomeio.wordpress.com/2008/11/04/bibliografia-do-estudo-do-meio/) e ler o artigo Estudo do meio, interdisciplinaridade e ação pedagógica de N. Pontuskha no blog Estudo do Meio e Questões Ambientais(http://estudodomeio.wordpress.com/2009/03/10/acao_pedagogica/).

O estudo do meio é um recurso pedagógico muito valorizado em diversos níveis da escolarização, desde a educação básica até o ensino superior, principalmente em cursos de formação inicial e continuada de professores, mas também de outras áreas das humanidades. É uma estratégia didática que envolve (re)planejar e (re)avaliar cada uma das diferentes etapas e também refletir sobre as relações entre ensino e pesquisa. A realização deste estudo do meio sobre os sambaquis de Cananéia envolveu várias atividades: preparação para a viagem ao litoral sul; pesquisa de campo; vivências e registros textuais e imagéticos em diários sobre o trabalho de campo; pesquisas e leituras temáticas (artigos e capítulos de dissertações e teses sobre sambaquis da região sul e sudeste de SP, sites e blogs sobre o meio estudado, matérias e artigos acadêmicos sobre uso de blogs na educação); análise, sistematização e apresentação de dados sob a forma de relatos etnográficos e de ensaios escritos pelos participantes para a publicação em blog; criação deste blog para a divulgar conhecimentos produzidos por estudantes e professores. Tais atividades realizadas em diferentes etapas do estudo do meio serão apresentadas em uma série de posts.

Adriane Costa da Silva
(Prof Ms - Didática do Ensino Superior)
Cláudia Plens
(Profa Dra - Arqueologia pré-histórica)
Vagner C. Porto
(Prof Dr - Arqueologia Histórica / Coordenador)
Curso de Especialização Arqueologia, História e Sociedade

Revisão : Adriane Costa da Silva








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